sábado, 4 de janeiro de 2014

Uma coisa é plano (vide post anterior), outra é desejo, vontade, potência de querer mudar as coisas. Como se fora uma carta de intenções atirada dentro de uma garrafa a Iemanjá, aqui entre o Pina e Brasília Teimosa, dez pedidos para mudar os modos de macho neste 2014 que ainda se arrasta lento e sartriano qual uma ressaca de bebida falsa:

1) Que mesmo em um ano de Copa do Mundo no Brasil –imagina na Copa!- os homens consigam dedicar tanto tempo de devoção às suas mulheres quanto aos seus times do peito. Pedido modesto: basta um empate técnico. Nem estou pedindo que sejam mais das fêmeas do que dos 11 marmanjos que os representam em campo.

2) Que sejamos menos frouxos diante da possibilidade amorosa mais consistente. O primeiro a fugir à luta é mulher do padre.

3) Que os galinhas entendam que só na intimidade mora a grande sacanagem, a grande putaria, o grande erotismo, o mais pornográfico dos encontros.

4) Que a vida, muitas vezes, pode estar mais para Wando do que para Shakespeare. Que nunca devemos cair no conto das discussões complicadas e labirínticas. Como cantava o maior colecionador de calcinhas do mundo:“Uma mulher tem os seus desejos loucos, mas no fundo/ Seu coração só quer as coisas mais simples do mundo”.

5) Que numa mulher não se bate nem com uma flor, como já poetizava a Florbela Espanca. A não ser em uma fêmea declaradamente rodriguiana que te implore, de joelhos, na cama.

6) Que amar é… tentar adivinhar os desejos dela antes que sejam verbalizados em tom de enfado ou queixa. A mulher deixa rastros desses desejos nas entrelinhas da fala, nas pequenas indiretas e ao narrar histórias de outros casais. Se liga, lesado!

7) Que sem imperfeição não há tesão. A idealizada, padronizada e paranoica busca do corpo perfeito, como querem as revistas femininas, brocha ou broxa –os dicionários admitem as duas formas de murchar o orgulho macho. Obrigatório repetir um velho mantra a essa altura: homem que é homem não sabe a diferença entre estria e celulite.

8) Que o sujeito que tem medo do amor não merece sequer o adeus de uma daquelas mãozinhas de plástico que enfeitavam os carros antigamente.

9) Que saibamos que a rotina exagerada irrita as mulheres. Nós amamos quando o garçom do repetidíssimo boteco diz: “O de sempre, doutor?”Ou quando o mesmo garçom já traz a nossa bebida e tira-gosto sem sequer fazer a pergunta. Sem essa de frescuragem gastronômica exagerada, você sabe a roubalheira, o truque, o caô dessa armação brasileira. Tente, porém, camarada, surpreendê-la com programas diferentes, amar é investigar a vida para torná-la menos dolorosa de forma solitária ou a dois.

10) Que entre um homem e uma mulher não existe regra, dica, manual, código do bom-tom ou cartilha, mas há uma coisa imperdoável: o fastio, a falta da fome de viver, velho Bowie, a indiferença silenciosa sem nada nunca ser dito nem perguntado. Tudo, menos corações tomados pelo mofo da covardia de não mudar o estadão das coisas.


Img: Sarah Michelle Gellar e Ioan Gruffudd in Ringer

O amor é um sentimento destinado à felicidade, tanto quanto ao sofrimento e também à doação. Se você ama (melhor seria dizer: se você é capaz de amar), não espere só grandes recompensas, respostas otimistas. Amar é apesar.
Amor é o sentimento que se instala a partir do primeiro tédio. Amor não é o que nos atrai em alguém. Isso é atração, paixão, ou qualquer coisa parecida.
Amor é o que nos mantém unidos.
Quando menos sentimentos exaltados, mais amor, união e durabilidade.
O amor é um sentimento embaraçado nas raízes fundas do sentimento. 
Quem ama nem tem consciência dessas raízes. Teme-as. Prefere não vê-las.
Porque vê-las será revelar-se. E revelar-se assusta.
O amor é também o sentimento misturado com rejeição, raiva, irritação, convivência, desinteresse, tédio, o vazio a dois, o sumiço da paixão e as emoções mais intensas.
Ele é tão grande, tão pleno, tão poderoso e incrível que resiste a tudo isso, inclusive as impossibilidades, estranho veneno que o alimenta. Mas isso é amor dodói. Amor saudável é apenas bom.
Você não deixa de amar apenas porque já não gosta igual ou não sente a mesma atração. Talvez só agora você comece a ficar madura o suficiente para poder começar a amar.
Pessoas que se atraem à perdição talvez ainda nem começaram a se amar. 
Enquanto apenas se atraírem, não alcançarão o amor. Alcançar o amor tem tanto de renúncia quanto de alegria, felicidade ou glória. Sim, a felicidade pessoal é compatível com o amor. Infelicidade, jamais. Mas amor é sério demais para almejar apenas felicidade. O amor visa a eternidade. A felicidade é apenas um caminho para ela.
Assim como é preciso alguma crueldade para viver. Assim como há sempre alguma agressão embrulhada em qualquer vitória, assim, também, a alegria precisa de alguma inconseqüência. Sem esta, restará apenas a lucidez, que é sempre repleta de ''trágicos deveres''. Libertando-nos da plena consciência, a inconseqüência nos permite alguma alegria. Já felicidade é outro assunto. Está no campo do amor.
Felicidade ganha de alegria assim como amor ganha de paixão. Mesmo quando venha nesta embrulhado.

 [Artur da Távola]

;;
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sentimentos Soltos

Template by:
Free Blog Templates