quinta-feira, 30 de junho de 2016

"Sim, chorar eu chorei!
São mornas as  Auroras!
Toda lua  é cruel e todo sol, engano:
O amargo amor opiou de ócios minhas horas
Ah! que esta  quilha rompa!
Ah! Que me  engula o oceano!"

[Rimbaud; Rimbaud Livre in trecho do poema O Barco Bêbado]

Acho que a grande revolução, e o livro Ensaio sobre a Cegueira» fala disso, seria a revolução da bondade. Se nós, de um dia para o outro, nos descobríssemos bons, os problemas do mundo estariam resolvidos. Claro que isso nem é uma utopia, é um disparate. Mas a consciência de que isso não acontecerá, não nos deve impedir, cada um consigo mesmo, de fazer tudo o que pode para reger-se por princípios éticos. Pelo menos a sua passagem pelo este mundo não terá sido inútil e, mesmo que não seja extremamente útil, não terá sido perniciosa. Quando nós olhamos para o estado em que o mundo se encontra, damo-nos conta de que há milhares e milhares de seres humanos que fizeram da sua vida uma sistemática ação perniciosa contra o resto da humanidade. Nem é preciso dar-lhes nomes”.

[José Saramago in Folha de S. Paulo, Outubro 1995]

"Me entenda. Eu não sou como um mundo comum. 
Eu tenho a minha loucura, eu vivo em outra dimensão, 
eu não tenho tempo para coisas que não têm alma." 

 [Charles Bukowski]
img: Lana DelRey

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,

e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a, e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a eu nos meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi já.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, e ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que eu a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta a tive nos meus braços,
a minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Embora esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.



[Pablo Neruda]

domingo, 19 de junho de 2016

notas sobre ela

ela se permite
está na vida para viver
para sentir
para amar
para rir alto
para errar
e voltar a errar
se isso for preciso para aprencer
aprender é a sua maior ambição
aprender com a natureza
com as crianças e com Chico Buarque
com as amigas, com os  idosos
e aprender, quando silencia o mundo
e escuta  o seu próprio coração

[Zack Magiezi]

sábado, 18 de junho de 2016

Lembrar de:

Não desistir
Mas se algo pesar,  descansar
Apreciar a chuva
Mas se banhar  de sol
não permitir
que suguem energias
Mas emanar amor
Sorrir
e desafiar a dor

[Beatriz Amaral]

sexta-feira, 17 de junho de 2016

"Não é apenas uma biblioteca. É uma nave espacial que vai levá-lo até aos confins do Universo, uma máquina do tempo que vai levá-lo para o extremo passado e o futuro distante, um professor que sabe mais do que qualquer ser humano, um amigo que divertirá você e o consolará — e , acima de tudo, uma porta de entrada para uma vida melhor, mais feliz e mais útil”.

[Isaac Asimov]

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Pisca-Pisca

" A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre.

- E depois que morre? - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?"

[Monteiro Lobato- Memórias de Emilia]

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Essas coisas


Você não está mais na idade
de sofrer por essas coisas".

Há então a idade de sofrer
e a de não sofrer mais
por essas, essas coisas?

As coisas só deviam acontecer
para fazer sofrer
na idade própria de sofrer?

Ou não se devia sofrer
pelas coisas que causam sofrimento
pois vieram lá de fora, e a hora é calma?

E se não estou mais na idade sofrer
é por que estou morto, e morto
é a idade de não sentir as coisas, essas coisas?

[Carlos Drummond de Andrade]
img: Juliet Martin in Ringer -1ª Temporada

terça-feira, 14 de junho de 2016

“Não desista, vá em frente. Sempre há uma chance de você tropeçar em algo maravilhoso. 
Nunca ouvi falar em ninguém que tivesse tropeçado em algo enquanto estava sentado. "

[Charles F. Kettering]

[jennifer lawrence  in Jogos Vorazes - A esperança]

segunda-feira, 13 de junho de 2016




Poema de Despedida

Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer
Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo

[Mia Couto]
img: Nina Dobrev in the Vampire Diaries

domingo, 12 de junho de 2016

NÃO TE RENDAS


Não te rendas, ainda é tempo 
De se ter objetivos e começar de novo, 
Aceitar tuas sombras, 
Enterrar teus medos 
Soltar o lastro, 
Retomar o voo. 
Não te rendas que a vida é isso, 
Continuar a viagem, 
Perseguir teus sonhos, 
Destravar o tempo, 
Correr os escombros 
E destapar o céu. 
Não te rendas, por favor, não cedas, 
Ainda que o frio queime, 
Ainda que o medo morda, 
Ainda que o sol se esconda, 
E o vento se cale, 
Ainda existe fogo na tua alma. 
Ainda existe vida nos teus sonhos. 
Porque a vida é tua e teu também o desejo 
Porque o tens querido e porque eu te quero 
Porque existe o vinho e o amor, é certo. 
Porque não existem feridas que o tempo não cure. 
Abrir as portas, Tirar as trancas, 
Abandonar as muralhas que te protegeram, 
Viver a vida e aceitar o desafio, 
Recuperar o sorriso, 
Ensaiar um canto, 
Baixar a guarda e estender as mãos 
Abrir as asas 
E tentar de novo 
Celebrar a vida e se apossar dos céus. 
Não te rendas, por favor, não cedas, 
Ainda que o frio te queime, 
Ainda que o medo te morda, 
Ainda que o sol ponha e se cale o vento, 
Ainda existe fogo na tua alma, 
Ainda existe vida nos teus sonhos 
Porque cada dia é um novo começo, 
Porque esta é a hora e o melhor momento 
Porque não estás sozinho, porque eu te amo 

[Mario Benedetti]

sábado, 11 de junho de 2016

Estavam ali as portas
Janelas e varandas.
Estavam ali
Na fronteira do olhar
Onde o de dentro encontra
Justamente
Com o de fora.
Nesse ponto exato
Elas estavam:
Bastava um gesto.
Mas o meu estar parado
Era maior que eu.
Estar parado
Estar vivo:
A mesma incompreensão
E medo
Entre mim
E aquele estar das coisas.
Estar ali
Como nunca ter chegado.
Estar ali
Por estar ali
E além de mim
O que eu não ousava.
Ah
Relembro a amplidão dessas varandas intocadas
Os pequenos raios de luz
Nos vidros coloridos das janelas.
Revejo a dura consistência da porta
Cerrando seu segredo.
E me retomo
Ali
No imóvel do gesto que não fiz.
Como se pudesse
Agora
Escancarar portas e janelas
Para sair nu pelas varandas
Desvairado e nu
Profeta, louco, infante,
Sair para o vento
O sol, as tempestades, as neves,
As quedas de estrelas e Bastilhas,
O cheiro de jasmins
Entontecendo os quintais.
(pudesse retomar manhãs, amigo,
manhãs perdidas como tudo
que não fui)
Mas continuo
Ali.
Aqueles espaços
Permanecem mortos dentro de mim.
Como um corpo que se ama
E não se toca.

[Caio Fernando Abreu in  Cartas]
img: Kate Winslet

sexta-feira, 10 de junho de 2016

"Alguém fez uma pergunta sobre a poesia deles, se era difícil ter de reviver as palavras toda vez que se apresentavam. A resposta foi que, apesar de o ideal ser eles superarem aquilo (a pessoa ou o evento que inspirou as palavras naquela época), isso não significa que uma pessoa que estiver escutando não tenha passado pela mesma coisa.
“E daí? E daí que a dor sobre a qual você escreveu ano passado não é o que você está sentindo hoje? Pode ser exatamente o que a pessoa na primeira fila está sentindo. O que você está sentindo agora, e a pessoa a quem suas palavras talvez afetem daqui a cinco anos — é por isso que se escreve poesia.”

[Colleen Hoover in Métrica]

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Poesia sempre

Poesia serve exatamente para a mesma coisa que serve uma vaca no meio da calçada de uma agitada metrópole. Para alterar o curso do seu andar, para interromper um hábito, para evitar repetições, para provocar um estranhamento, para alegrar o seu dia, para fazê-lo pensar, para resgatá-lo do inferno que é viver todo santo dia sem nenhum assombro, sem nenhum encantamento. 

[Martha Medeiros in Doidas e Santas]

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Se você ama, diga que ama. Diga o seu conforto por saber que aquela vida e a sua vida se olham amorosamente e têm um lugar de encontro. Diga a sua gratidão. O seu contentamento. A festa que acontece em você toda vez que lembra que o outro existe. E se for muito difícil dizer com palavras, diga de outras maneiras que também possam ser ouvidas. Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas, não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá...

[Ana Jácomo]

Sensibilidade

Ser sensível nesse mundo requer muita coragem. Todo dia. Esse jeito de ouvir além dos olhos, de ver além dos ouvidos, de sentir a textura do sentimento alheio tão clara no próprio coração e tantas vezes até doer ou sorrir junto com toda sinceridade. Essa intensidade toda em tempo de ternura minguada. Esse amor tão vívido em terra em que a maioria parece se assustar mais com o afeto do que com a indelicadeza. Esse cuidado espontâneo com os outros. Essa vontade tão pura de que ninguém sofra por nada. Essa saudade, que às vezes faz a alma marejar, de um lugar que não se sabe onde é, mas que existe, é claro que existe. Essa vontade de espalhar buquês de sorrisos por aí, porque os sensíveis, por mais que chorem de vez em quando, não deixam adormecer a idéia de um mundo que possa acordar sorrindo. Pra toda gente. Pra todo ser. Pra toda vida.

[Ana Jácomo]

Sinto orgulho em saber
que meu passado me permitiu
ter mais sensibilidade.
Hoje me sinto menos tempestuosa e
mais, bem mais pronta, próxima de mim,
do que fui, do que sou, dessa pessoa
que o tempo me fez.
Hoje, sou mais compreensiva
diante desse futuro que me brinda
com gentil delicadeza.
Surpreendo-me quando
me pego espalhando flores
no caminho que cruzo.
Quem sabe essa não seja
a confirmação de que preciso continuar.
Acho que isso é o que me salva todos os dias.
É essa esperança de vida que me consome.

[Bibiana Benites]

terça-feira, 7 de junho de 2016

"(...)Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o único jeito de deixá-la pra trás é continuar andando. Você vai ser feliz.

Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto de agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que tô falando a verdade. Eu não minto. Vai passar."
[Antonio Prata]

Não me iludo mais com metades que a gente encontra pelo caminho. Hoje, se tem uma coisa que eu me transbordo e me encanto - pateticamente -, é com pessoas inteiras. Reconheço de longe a vastidão que essas almas carregam dentro.

[Bibiana Benites]

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Desilusões


Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Presta atenção querida
embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção querida
Em cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés

[Cartola]

domingo, 5 de junho de 2016

Terrível dor

Neste momento, não sou mesmo capaz de compreender como deve ser ter o coração partido de verdade. Se eu sentir uma dor apenas um por cento mais forte do que a que já sinto agora, abdico do amor. 
Não vale a pena.
[Colleen Hoover in “Métrica”]
img: Lucy Hale e Holly Marie Combs in Pretty Little Liars

sábado, 4 de junho de 2016

FALTA DE TEMPO

Existe um único antídoto para a falta de tempo. 
Um único.
Estar apaixonado.
Esquecer de si para inventar o desejo.
O desejo transforma-se no próprio tempo.
Tudo é adiado.

[Fabrício Carpinejar]

sexta-feira, 3 de junho de 2016

"Aí eu te pergunto: crescer pra que? Eu já trabalho, me sustento, mato meus leões diários, lido com quem quer atrapalhar, com a saudade do passado, com a necessidade de olhar pra frente.. Eu busco o otimismo, o sorriso, o sonho.. Matar a criança que vive em mim? Não! NUNCA! Foi essa criança que sustentou quando nada fazia sentido. É ela que dá luz ao meu sorriso e dá a fé necessária pra ser uma pessoa melhor."

[Raffaella Herman]

Penso, com mágoa, que o relacionamento da gente sempre foi um tanto unilateral, sei lá, não quero ser injusto nem nada — apenas me ferem muito esses teus silêncios.

[Caio F.Abreu in Cartas]
img: Katie Morosky (Barbra Streisand) e Hubbell Gardiner (Robert Redford)
 in Nosso amor de ontem - 1973

Entre sobreviver e viver há um precipício, e poucos encaram o salto. Encerro esta crônica com dois versos que não são de Vinicius, e sim de uma grande poeta Chamada Vera Americano, que em seu novo livro, Arremesso livre (editora Relume Dumará), reverencia a mudança. Não te acorrentes/ ao que não vai voltar, diz ela, provocando ao mesmo tempo nosso desejo e nosso medo. Medo que costuma nos paralisar diante da decisão crucial: Viver/ o u deixar para mais tarde.O poeta espalmaria sua mão direita nas nossas costas (a outra estaria segurando o copo) e diria: vai.

[Martha Medeiros in [Doidas e Santas]

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