quinta-feira, 20 de maio de 2010

Para sempre amor


Cadernos de Manuela
Pelotas, 4 de setembro de 1880

Não dormi naquela noite, mas gastei-a lentamente, como quem chupa os gomos de uma laranja, sorvendo seu sumo com prazer e com cuidado. Porque não queria que a  noite passasse, nem que o sol rompesse a barra da madrugada, onde a paz do mundo me aproximava ainda mais da grande verdade: eu encontrara o amor. Decerto, assim o soube desde o primeiro instante, e esse amor não me veio como chuva, mas como um manancial, era um oceano tão igual ao que Giuseppe nos narrara, que soube ser verdadeiro e terno – até hoje ainda o amo com a mesma faina, mesmo gasto o tempo, mesmo passadas tantas coisas, mesmo que esse oceano já se tenha evaporado e dele só me reste o seu sal e alguns escombros de sonhos, como fósseis mui antigos que eu acarinho com cuidado para que não virem pó.
 [Letícia Wierzchowski in  A Casa das Sete Mulheres. 5 ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. P.229.]

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