terça-feira, 6 de maio de 2008

Comunhão

Comunhão não existe sem humildade. E sem as duas, não existe experiência da verdade. A verdade a gente não sabe. A verdade a gente vive quando ela se apropria de nós. A verdade não é coisa da razão, resultado da reflexão. A verdade é soma de corações e não de cabeças. A verdade é coisa fugidia, que não se deixa prender na gaiola dos raciocínios, não cai nas armadilhas dos pensamentos. A verdade é isso, a gente experimenta, saboreia, se delicia, mas não fica com ela como quem tem posse, pois a verdade é maior do que nós, em cada um de nós só cabe meia verdade. E a gente tenta fazer uma verdade inteira juntando as partes e ficando com elas, como quem rouba do outro a metade que está com ele, pra depois a gente ficar dono da verdade. Mas a verdade não participa desse jogo. O jogo da verdade não é soma, é partilha. Não é brincadeira onde quem tem mais meia verdade ganha. É mais como uma dança aonde a beleza e o alumbramento vêm no par, ou até mesmo na roda, aonde as mãos e braços vão se encontrando e se despedindo, até que todo mundo na roda vive a verdade, e brinca com ela cada vez que os braços se entrelaçam e as mãos se acariciam. No fim da noite, quando cada um vai para casa descansar, a verdade também se recolhe, para que no dia seguinte todo mundo se precise novamente. Assim a humildade e a comunhão cuidam da verdade.
Na dança da verdade, meia verdade é verdade com limite, é verdade incompleta, dizendo para todo mundo que as idéias são menos importantes que as pessoas. Quem não consegue entrar na roda e quer espreitar para colecionar fragmentos de verdade, imaginando ser possível ficar dono da verdade e viver tomando conta da verdade, de fato, não vive com a verdade, mas com o capricho, a ilusão ou a miopia.
(Ed René Kivitz)

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