quinta-feira, 5 de junho de 2008

Para o Zé



Eu te amo,
homem, hoje como toda vida quis
e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor.
(...)

Divago,
quando o que quero é só dizerte amo.
Teço as curvas,
as mistas e as quebradas,
industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela,
desejando as finuras, violoncelo, violino, menestres
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
para escutar o que bate.
Eu te amo, homem,
amoo teu coração,
o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer,
as aparas de tuas unhas perdidas nas casas que habitamos,
os fios de tua barba.
Esmero.
Pego tua mão, me afasto, viajo pra ter saudade...
Aprendo.
Te aprendo, homem.
O que a memória ama fica eterno.
Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam uma coisa só: Deus é amor.
Você me espicaça como o desenho do peixe na guarnição de cozinha,
você me guarnece, tira de mim o ar desnudo,
me faz bonita de olhar-me,
me dá uma tarefa, me emprega, me dá um filho, enche minhas mãos.

(...)

Assim te amo
do modo mais natural,vero-romântico,
homem meu, particular
homem universal.
Tudo o que não é mulher está em ti,
maravilha.
Como grande senhora vou te amar,
os alvos linhos, a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar,
o delicioso amor:com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés,o dorso e a planta deles eu beijo.

(Trechos do Poema “Para o Zé” de Adélia Prado)

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