sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Todas as vezes em que observo os estudantes de Direito, vejo em muito deles, com mais frequência do que antes, caçadores de dinheiro e poder. Tenho dificuldades, atualmente, como professor, em vislumbrar nos futuros “juristas” a sede de justiça que deve permear alguém que escolhe a “profissão das leis”.
Convivi, na condição de educador do Direito, com dez anos de carreira, com alunos espetaculares. Eram bons não somente na arte de lidar com os melindres da ciência jurídica, mas também compromissados com a justiça na acepção mais viva e material do termo. Contudo, estes eram a exceção.
A título de esclarecimento, não estou falando exclusivamente do corpo discente da instituição perante a qual, com muita honra, leciono. Na verdade, dei aulas preparatórias para concursos e de reciclagem jurídica, inclusive em pós-graduação. Tal aspecto, deu-me uma visão geral do estudante de Direito e confesso que a conclusão não me agradou.
Primeiro ponto, verifiquei que as pessoas que optam por Direito, nomeadamente os elitistas frequentadores da UFPB, têm a visão anacrônica da ciência jurídica, vendo-o mais como uma forma de manipulação do poder do que propriamente um instrumento de serventia da equidade e da paz social.
Os mais intelectuais normalmente não usam do dom para disseminar a igualdade, atributo indissociável do Direito, mas, ao revés, fazem-no elemento para expressão da soberba, do autoritarismo e do egocentrismo acadêmico. Muitas vezes, são um bando de “intelectualóides” que nunca souberam o que é passar fome ou sentiram a dor de uma injustiça cristalizada na imutabilidade da coisa julgada, vomitada por tribunais comprados.
Acho que nós, professores, também temos considerável parcela de culpa nessa construção de seres autoritários. Normalmente, ao contrário de seus colegas, o professor de Direito não vive exclusivamente do magistério. Ao revés, mescla-o com carreiras como a advocacia, o ministério público e a magistratura, fazendo do magistério, não raro, um “bico” ou um apêndice para assegurar manutenção do “status” de mestre (sem mestrado, muitas vezes).
Assim, na maioria das vezes, essas “autoridades” sequer sabem o que é ser professor. São desprovidos da menor noção dos princípios gerais da pedagogia e, na maioria das vezes, com exceções significativas e reconhecidas, são meros rábulas do ensino, os quais repassam para a classe nada mais do que a sua frágil e enclausurada vivência forense.
Não raro, os acadêmicos não são ensinados a entender o Direito, mas tão somente a decorar acriticamente artigos de lei, muitos destes, oriundos de um parlamento materialmente ilegítimo e desconhecedor do próprio poder jurígeno que detém. O resultado dessa mistura bombástica é a produção em série de zumbis engomadinhos (os bacharéis), absolutamente insensíveis aos problemas jurídicos do país e ávidos apenas por um bom salário.
Desde o meu tempo de estudante na UFPB, o acadêmico de Direito já se sentia superior aos universitários dos outros cursos. Isto porque, errônea e imaturamente, já se considerava dono da toga do juiz ou com a caneta do parquet. Com efeito, aprovado no vestibular, o aspirante a jurista já mudava seus hábitos, desde suas vestimentas à forma como se expressava verbalmente, passando, muitas vezes, a adquirir uma postura incompatível com a jovialidade de sua etapa de vida.
O apego à forma, no curso de Direito, é tão teratológico e doentio, que muitos estudantes, para expor erudição da qual não são naturalmente detentores, transformam o dicionário em bíblia com o afã ignóbil e pueril de buscar palavras mais prolixas para suas redações. Saibam estes que a sabedoria está na simplicidade e não num vocabulário forjado e falsamente concebido.
Existe outro segmento de alunos do curso que sequer gostam do que estudam. Fazem-no por imposição dos pais ou por simples vontade de melhorar suas condições de vida. Muitos ainda veem no Direito uma chance de ser aprovado em um concurso e viver folgadamente para o resto da vida. Ledo engano! A OAB vomita candidatos, em suas provas (o que faz muito bem). A média de aprovação é menos de 10%, o que significa dizer que, ao menos, 90% não conseguirão exercer a advocacia.
Doutra banda, os almejados cargos de juiz ou membro do Ministério Público ainda são mais inacessíveis. O índice de aprovação chega a um ou dois por cento, o que resvalam no mercado do desemprego milhares de “juristas”. Não sei se o leitor sabia, mas há mais faculdades de Direito no Estado da Paraíba do que em muitos países da Europa, como por exemplo Portugal. Essa numerosidade de instituições mediocriza a profissão e compromete o mercado de trabalho.
Assim, é bom a galera do “juridiquês” baixar a bola. Cursar Direito é ter razoável expectativa de exercer uma profissão qualquer, digna, mas nem melhor ou pior do que tantas outras. O diferencial está na dedicação pessoal e no compromisso singular com a sociedade e com aquilo que é bom e honesto. Se isto é raro em qualquer profissão, em Direito, é mais raro ainda.
A título de esclarecimento, não estou falando exclusivamente do corpo discente da instituição perante a qual, com muita honra, leciono. Na verdade, dei aulas preparatórias para concursos e de reciclagem jurídica, inclusive em pós-graduação. Tal aspecto, deu-me uma visão geral do estudante de Direito e confesso que a conclusão não me agradou.
Primeiro ponto, verifiquei que as pessoas que optam por Direito, nomeadamente os elitistas frequentadores da UFPB, têm a visão anacrônica da ciência jurídica, vendo-o mais como uma forma de manipulação do poder do que propriamente um instrumento de serventia da equidade e da paz social.
Os mais intelectuais normalmente não usam do dom para disseminar a igualdade, atributo indissociável do Direito, mas, ao revés, fazem-no elemento para expressão da soberba, do autoritarismo e do egocentrismo acadêmico. Muitas vezes, são um bando de “intelectualóides” que nunca souberam o que é passar fome ou sentiram a dor de uma injustiça cristalizada na imutabilidade da coisa julgada, vomitada por tribunais comprados.
Acho que nós, professores, também temos considerável parcela de culpa nessa construção de seres autoritários. Normalmente, ao contrário de seus colegas, o professor de Direito não vive exclusivamente do magistério. Ao revés, mescla-o com carreiras como a advocacia, o ministério público e a magistratura, fazendo do magistério, não raro, um “bico” ou um apêndice para assegurar manutenção do “status” de mestre (sem mestrado, muitas vezes).
Assim, na maioria das vezes, essas “autoridades” sequer sabem o que é ser professor. São desprovidos da menor noção dos princípios gerais da pedagogia e, na maioria das vezes, com exceções significativas e reconhecidas, são meros rábulas do ensino, os quais repassam para a classe nada mais do que a sua frágil e enclausurada vivência forense.
Não raro, os acadêmicos não são ensinados a entender o Direito, mas tão somente a decorar acriticamente artigos de lei, muitos destes, oriundos de um parlamento materialmente ilegítimo e desconhecedor do próprio poder jurígeno que detém. O resultado dessa mistura bombástica é a produção em série de zumbis engomadinhos (os bacharéis), absolutamente insensíveis aos problemas jurídicos do país e ávidos apenas por um bom salário.
Desde o meu tempo de estudante na UFPB, o acadêmico de Direito já se sentia superior aos universitários dos outros cursos. Isto porque, errônea e imaturamente, já se considerava dono da toga do juiz ou com a caneta do parquet. Com efeito, aprovado no vestibular, o aspirante a jurista já mudava seus hábitos, desde suas vestimentas à forma como se expressava verbalmente, passando, muitas vezes, a adquirir uma postura incompatível com a jovialidade de sua etapa de vida.
O apego à forma, no curso de Direito, é tão teratológico e doentio, que muitos estudantes, para expor erudição da qual não são naturalmente detentores, transformam o dicionário em bíblia com o afã ignóbil e pueril de buscar palavras mais prolixas para suas redações. Saibam estes que a sabedoria está na simplicidade e não num vocabulário forjado e falsamente concebido.
Existe outro segmento de alunos do curso que sequer gostam do que estudam. Fazem-no por imposição dos pais ou por simples vontade de melhorar suas condições de vida. Muitos ainda veem no Direito uma chance de ser aprovado em um concurso e viver folgadamente para o resto da vida. Ledo engano! A OAB vomita candidatos, em suas provas (o que faz muito bem). A média de aprovação é menos de 10%, o que significa dizer que, ao menos, 90% não conseguirão exercer a advocacia.
Doutra banda, os almejados cargos de juiz ou membro do Ministério Público ainda são mais inacessíveis. O índice de aprovação chega a um ou dois por cento, o que resvalam no mercado do desemprego milhares de “juristas”. Não sei se o leitor sabia, mas há mais faculdades de Direito no Estado da Paraíba do que em muitos países da Europa, como por exemplo Portugal. Essa numerosidade de instituições mediocriza a profissão e compromete o mercado de trabalho.
Assim, é bom a galera do “juridiquês” baixar a bola. Cursar Direito é ter razoável expectativa de exercer uma profissão qualquer, digna, mas nem melhor ou pior do que tantas outras. O diferencial está na dedicação pessoal e no compromisso singular com a sociedade e com aquilo que é bom e honesto. Se isto é raro em qualquer profissão, em Direito, é mais raro ainda.
Jormal Correio da Paraíba 18 de novembro de 2011
Marcadores: Autores Diversos, Direito, Paraíba, Reflexões
Subscribe to:
Postar comentários (Atom)
0 sentimentos:
Postar um comentário