terça-feira, 2 de abril de 2013

DANE-SE A FILA


O que sou não deve ser regra de convivência. O que sou morre comigo.
Descobri que amar não é fazer com que o outro siga meu ritmo insano.
Isso é ditadura.
Amar não é puxar a namorada para o nosso fôlego, não é arrancá-la de seu temperamento e forçar semelhanças.
Isso é indiferença.
Amar não é punir atrasos e castigar descompassos.
Isso é tortura.
Amar não é ameaçar com frases egoístas como “A fila anda”. É o contrário: é perder o lugar na fila, é ceder seu lugar na fila, é regressar ao início da fila.
Amar é estranhamente recuar. É encurtar as pernas para melhor passear, alongar os braços para melhor entrelaçar os dedos.
O apaixonado não impõe seu temperamento, acostuma-se a caminhar diferente, olhando ao lado. O lado passa a ser a nossa frente. Quem nos ladeia é o nosso horizonte.
Surgirá um contratempo de sua companhia, uma dificuldade inesperada e se verá contrariando seus planos para ajudar – só tem pressa quem não tem urgência.
Amar é proteger mais do que avançar, é cuidar mais do que atingir objetivos, é apoiar mais do que se vangloriar da distância.
Foi a minha avó Mafalda que me explicou. Ficava muito irritado pelo seu trotear na Rua Corte Real. Era velhinha, manca e, além de tudo, distraída. Ela me obrigava a participar de sua andança fisioterápica depois do almoço. Um quarteirão correspondia a queimar calorias de quatro quilômetros.
– Meu neto, é bom acompanhar um familiar doente, pois amar é ir aos poucos, é lentidão por fora e interesse por dentro – ela dizia.
Não fazia lógica para mim. Amar parecia voar, correr, atropelar. Amar significava velocidade, superação, afoiteza. Amar traduzia liberdade, transgressão, não se intimidar com os limites.
Eu me enganei, vó.
Seu andar miúdo, pequeno, de bengala, pesando cada pé no chão, me ofereceu uma aula emocional.
Nenhum casal corre de mãos dadas.
Amar é aguardar se necessário, voltar atrás se preciso, criar um novo passo para atender os dois.
Se fui apressado para conquistar minha mulher, agora devo ser lento, estar com ela é meu destino. 

2 sentimentos:

Patrícia Pinna disse...

Bom dia, Rebecca. Que blog lindo, de conteúdo e apaixonante, que fez eu refletir e seguir.
Gosto de conhecer novos espaços, caso me identifique fico por aqui. Assim eu fiz!
Adoro a Elis, sempre gostei. Lendo este maravilhoso TEXTO DO fABRÍCIO, PENSO QUE TENHO DE LER E RELER, QUE MUITOS DEVEM LER ISSO TAMBÉM.
Sugestão minha: poste isso no face para o mundo ler!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Beijos na alma e amei tudo o que eu li aqui.

Flor disse...

Ahh Patrícia muito obrigada pelos elogias. Me enche de alegria e conforto saber quando alguém aprecia o blog, fique a vontade nesse espaço. Estou um pouco ausente, mas tento passar de vez em quando e deixar algum sentimento, espero voltar logo a rotina de postar todos os dias. Até lá, bjus

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