terça-feira, 20 de dezembro de 2016
Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei ardentemente o meu! E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido o Caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei de uma coisa: meu caminho não sou eu, é outro, é os outros. quando eu puder sentir plenamente o outro estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada.
[Clarice Lispector in A Descoberta do Mundo]
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